O Autismo e a Transição Entre Estações: Como a ABA Pode Ajudar
- Cátia Soares
- 4 de out. de 2024
- 3 min de leitura
A mudança de estação pode ser um desafio para muitas pessoas, mas para indivíduos com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), essa transição pode ser especialmente difícil. Alterações na rotina, no clima e até nas sensações associadas às diferentes estações podem desencadear comportamentos de desconforto, ansiedade e, em alguns casos, desregulação emocional. Neste contexto, a Análise Comportamental Aplicada (ABA) pode desempenhar um papel crucial para ajudar a minimizar esses desafios e promover o bem-estar.
Como as Mudanças de Estações Afetam Indivíduos com Autismo?
Pessoas com autismo têm, muitas vezes, maior sensibilidade a estímulos sensoriais e a mudanças na rotina. A transição entre as estações pode implicar:
Mudanças sensoriais: As variações na luz, temperatura, humidade e até no tipo de vestuário necessário para enfrentar as novas condições podem ser desconfortáveis. Por exemplo, a passagem do inverno para a primavera traz mais luminosidade e calor, enquanto a transição para o outono traz temperaturas mais frias e a necessidade de roupas mais pesadas.
Alterações na rotina: A mudança de horários com a introdução do horário de verão, ou a diferença nas atividades diárias (como o início ou fim das férias escolares), pode desestabilizar a sensação de segurança e previsibilidade, que é tão importante para muitos indivíduos com PEA.
Alterações comportamentais e emocionais: Para algumas pessoas com autismo, a dificuldade em processar estas mudanças pode resultar em comportamentos de evitamento, ansiedade ou frustração, tornando a adaptação às novas condições mais difícil.
A Intervenção ABA: Como Pode Ajudar?
A Análise Comportamental Aplicada (ABA) é uma abordagem baseada em evidências que visa modificar comportamentos desafiantes e promover habilidades adaptativas, incluindo a forma como indivíduos com autismo lidam com mudanças. Aqui estão algumas estratégias de ABA que podem ser eficazes durante a transição entre estações:
Antecipação e preparação: Um dos princípios fundamentais da ABA é preparar o indivíduo para mudanças futuras. Isto pode ser feito através de apoios visuais, como calendários e histórias sociais, que ajudam a explicar o que vai acontecer, preparando a pessoa para as novas sensações e rotinas associadas à próxima estação.
Desenvolvimento de estratégias de coping: A ABA trabalha no desenvolvimento de estratégias específicas de regulação emocional. Técnicas de respiração, o uso de objetos calmantes ou até a introdução gradual de novas peças de roupa (adequadas à estação) podem ajudar a pessoa a enfrentar melhor as mudanças sensoriais. Esta dessensibilização gradual é uma forma eficaz de expor a pessoa ao estímulo de maneira controlada.
Reforço positivo: Quando o indivíduo lida bem com a mudança (por exemplo, ao usar um casaco de inverno sem resistir ou ao aceitar um novo horário de atividades), é importante utilizar reforço positivo. Isto pode ser dado através de elogios, recompensas ou actividades preferidas, promovendo a repetição de comportamentos adaptativos.
Modelagem de comportamentos adaptativos: Outra estratégia comum na ABA é a modelagem, onde se ensinam comportamentos apropriados passo a passo. Por exemplo, a preparação para a mudança de horários pode ser modelada através de simulações no ambiente natural, permitindo que a pessoa se ajuste de forma mais suave a essas alterações.
Generalização de competências: A ABA foca-se também na generalização de comportamentos, ou seja, garantir que as competências aprendidas (como vestir roupas adequadas à estação ou aceitar mudanças no ambiente) são aplicadas em diferentes contextos e com diferentes pessoas. Isto é essencial para o desenvolvimento de maior flexibilidade face às variações sazonais.
Conclusão

A transição entre as estações do ano pode representar uma fase desafiante para indivíduos com autismo, especialmente devido às mudanças sensoriais e rotinas que essas transições implicam. No entanto, com a implementação de intervenções baseadas na ABA, é possível preparar e apoiar esses indivíduos, ajudando-os a enfrentar as mudanças de forma mais tranquila e adaptativa.
O uso de estratégias como antecipação, reforço positivo e modelagem de comportamentos adaptativos pode proporcionar maior flexibilidade e conforto durante estas transições. Ao trabalhar de forma sistemática, a ABA ajuda a reduzir a ansiedade e os comportamentos desafiantes, promovendo uma melhor qualidade de vida para o indivíduo e a sua família.
Se é pai, cuidador ou educador de alguém com PEA, considere consultar um analista comportamental para adaptar estas intervenções às necessidades específicas da pessoa sob os seus cuidados. Juntos, podem transformar os desafios das mudanças de estação em oportunidades de crescimento e aprendizagem.
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