Onda de calor: como afeta pessoas neurodivergentes com Perturbação do Processamento Sensorial e como apoiar
- Cátia Soares
- 3 de jul.
- 2 min de leitura

Portugal está a enfrentar mais uma onda de calor, com temperaturas que ultrapassam facilmente os 35ºC em várias regiões do país. Este aumento extremo de calor traz desafios para toda a população, mas é importante alertar que para pessoas neurodivergentes, especialmente aquelas com Perturbação do Processamento Sensorial (PPS), o impacto pode ser muito maior.
Por que o calor intenso é tão desafiante para pessoas com PPS?
Para muitas pessoas neurodivergentes, como indivíduos no espectro do autismo, com Perturbação do Processamento Sensorial ou com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), o corpo já enfrenta diariamente uma sobrecarga sensorial. O calor extremo pode intensificar:
A sensação de desconforto térmico, que pode ser percebida de forma amplificada ou distorcida
O cansaço físico, dificultando a regulação emocional e o autocontrolo
A irritação e intolerância ao toque, devido ao suor e à roupa que cola ao corpo
A dificuldade de concentração, pois o calor interfere no foco e aumenta a agitação ou, em alguns casos, a letargia
O stress sensorial geral, uma vez que todos os estímulos (cheiros, sons, texturas) parecem mais intensos e difíceis de filtrar
Como podemos apoiar?
Segue algumas estratégias práticas para famílias, cuidadores, escolas e terapeutas durante este período:
✔️ Manter ambientes frescos e ventilados
Sempre que possível, utilizar ar condicionado ou ventoinhas. Evitar espaços fechados e quentes, garantindo circulação de ar. Se usar ar condicionado, ajustar a temperatura gradualmente para não provocar choque térmico.
✔️ Reduzir camadas de roupa e priorizar tecidos naturais
Optar por roupas largas, leves e em algodão, que não irritem a pele e permitam maior respirabilidade.
✔️ Oferecer alternativas sensoriais refrescantes
Por exemplo: sprays de água fresca no rosto e braços, toalhas húmidas ou packs de frio envoltos em tecido suave. Estes podem proporcionar autorregulação sensorial e ajudar no controlo térmico.
✔️ Aumentar a ingestão de líquidos de forma lúdica e acessível
Oferecer água aromatizada naturalmente, gelatinas frescas ou cubos de gelo com pedaços de fruta, respeitando as preferências sensoriais e evitando sabores ou texturas que provoquem rejeição.
✔️ Criar espaços de calma
Em casa ou na escola, garantir locais frescos, pouco iluminados, silenciosos ou com ruído branco, onde possam retirar-se quando o calor estiver a ser demasiado avassalador.
✔️ Ajustar expectativas e atividades
Durante ondas de calor, a tolerância e a disponibilidade para tarefas ou atividades estruturadas podem diminuir. Adequar horários, reduzir exigências e permitir mais pausas é essencial.
✔️ Usar acessórios sensoriais adaptados
Algumas pessoas beneficiam de chapéus leves, óculos de sol ou protetores auriculares em ambientes muito ruidosos e luminosos.
Em resumo
As ondas de calor podem parecer apenas um incómodo para muitos, mas para pessoas neurodivergentes com Perturbação do Processamento Sensorial, são verdadeiros desafios à sua regulação e bem-estar.
Pequenas adaptações no ambiente e na rotina fazem uma diferença enorme na forma como experienciam estes dias mais difíceis. A inclusão e a acessibilidade começam em gestos simples, mas conscientes.
Se precisar de orientações específicas para adaptar o contexto terapêutico ou escolar nestes dias de calor intenso, estamos disponíveis para ajudar a encontrar as melhores estratégias para cada criança, adolescente ou adulto.
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