Carta ao pai Natal
- Cátia Soares
- 19 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

O Natal é uma época de magia, esperança e comunhão, mas para muitas famílias de crianças com autismo, é também um período que traz desafios únicos. É nesse espírito, cheio de significado e reflexão, que escrevemos esta “carta ao Pai Natal”, um apelo que ecoa o coração das famílias atípicas e o compromisso das instituições que trabalham diariamente com estas crianças.
Caro Pai Natal, este ano pedimos algo mais profundo do que brinquedos ou prendas vistosas. Pedimos compreensão. Para as crianças que vivem com autismo, o mundo pode ser um lugar de ruídos intensos, mudanças inesperadas e rotinas quebradas — aspetos que a época natalícia muitas vezes amplifica. Pedimos que, enquanto o mundo celebra com luzes, músicas e festas, as pessoas ao nosso redor possam pausar e considerar que nem todas as crianças reagem da mesma forma ao brilho e à agitação do Natal.
Que haja espaço para acolher cada criança na sua singularidade. Que as famílias que não podem participar num jantar de Natal longo ou ruidoso sejam recebidas sem julgamentos. Que as birras, os momentos de sobrecarga sensorial ou os desafios de comunicação sejam entendidos não como falhas, mas como parte de um percurso único e valioso.
Caro Pai Natal, também pedimos paciência e apoio. As famílias que convivem com o autismo precisam de ferramentas, recursos e, acima de tudo, solidariedade. Estas famílias vivem diariamente com o esforço de criar ambientes que respeitem as necessidades dos seus filhos, muitas vezes enfrentando barreiras sociais e emocionais. Pedimos que, neste Natal, estas famílias recebam um abraço da sociedade — que as suas batalhas sejam vistas, as suas conquistas celebradas e as suas dores compreendidas.
Por fim, pedimos esperança. Trabalhamos diariamente na nossa instituição com o propósito de promover o desenvolvimento, a autonomia e o bem-estar das crianças com autismo. Através da Análise Comportamental Aplicada, vemos progresso onde antes havia frustração, encontramos soluções onde antes havia dúvidas e celebramos cada pequena vitória como um marco importante. Mas sabemos que o nosso trabalho só é verdadeiramente eficaz quando é acompanhado por uma sociedade inclusiva, uma rede de apoio solidária e um compromisso coletivo com a aceitação.
Que este Natal traga mais do que presentes — que traga conhecimento e empatia. Que as comunidades se encham de pessoas dispostas a aprender sobre o autismo, a ouvir as famílias e a adaptar as suas expectativas para acolher todos, independentemente das suas diferenças.
Nesta carta ao Pai Natal, deixamos um desejo: que o espírito natalício nos inspire a construir um mundo mais justo, mais compreensivo e mais humano para as crianças que, embora vejam o mundo de forma diferente, têm tanto para nos ensinar.
Que o Pai Natal traga esta mensagem a todos os lares. E que possamos, juntos, fazer do Natal um espaço verdadeiramente inclusivo, onde todas as crianças, atípicas ou não, possam sentir-se acolhidas, valorizadas e amadas.
Com votos de um Natal mágico e inclusivo,
A equipa do Centro ABCRealPortugal





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