Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA)
- Cátia Soares
- 19 de jun.
- 2 min de leitura

No universo da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), trabalhamos diariamente com crianças que enfrentam desafios significativos na comunicação. Algumas ainda não falam, outras falam pouco, ou têm dificuldade em usar a linguagem de forma funcional. Nestes casos, a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) não é apenas uma ferramenta — é uma ponte. Uma ponte que liga a criança ao mundo, às suas necessidades, preferências, sentimentos… e à sua autonomia.
O que é, afinal, a CAA?
A CAA inclui todas as formas de comunicação que substituem ou complementam a fala natural. Pode ser gestual, com uso de imagens, símbolos, quadros de comunicação, ou ainda através de tecnologia assistiva, como aplicações de CAA em tablets e dispositivos com voz.
A escolha do sistema mais adequado depende de vários factores: o nível de desenvolvimento da criança, as suas competências motoras e cognitivas, a motivação e, claro, o ambiente em que está inserida. O importante é perceber que todas as crianças têm o direito de comunicar, independentemente da sua capacidade de fala.
Mitos que precisamos desconstruir
Um dos equívocos mais comuns é a ideia de que usar CAA pode "atrasar" ou "impedir" o desenvolvimento da fala. A ciência diz o contrário. A CAA, bem implementada, facilita a aquisição da linguagem e aumenta as oportunidades de comunicação funcional, muitas vezes servindo de base para que a fala surja mais tarde.
Outro mito frequente é o de que a CAA só deve ser usada “em último recurso”. Pelo contrário: quanto mais cedo for introduzida, mais eficaz será no desenvolvimento global da criança. A intervenção precoce é, como sempre, um dos maiores aliados.
CAA dentro da prática ABA
Como analistas comportamentais, olhamos para a comunicação não apenas como uma habilidade isolada, mas como um comportamento operante — algo que é aprendido, modelado e reforçado.
Na prática, isso significa que:
Identificamos funções da comunicação (pedir, recusar, comentar, chamar atenção, etc.);
Avaliamos quais são os comportamentos comunicativos actuais da criança, ainda que não verbais;
Escolhemos o sistema de CAA mais adequado, respeitando a individualidade da criança;
Criamos programas específicos para ensinar o uso da CAA em contextos reais — desde pedir brinquedos até interagir socialmente;
E, talvez mais importante, envolvemos famílias e educadores, para que a comunicação seja funcional, frequente e significativa em todos os ambientes.
CAA é liberdade
Quando uma criança aprende a comunicar — seja com palavras, com imagens ou com tecnologia — ela ganha liberdade. A liberdade de expressar o que quer, o que sente, o que gosta, o que precisa. Ganha também dignidade, porque é ouvida, compreendida, respeitada.
É por isso que, enquanto profissionais, devemos ver a CAA não como um “plano B”, mas como uma via legítima e eficaz de desenvolvimento da linguagem e da autonomia.
Em resumo
A Comunicação Aumentativa e Alternativa é uma ferramenta poderosa, com base científica sólida e impacto transformador. Enquanto analistas do comportamento, temos a responsabilidade — e o privilégio — de a integrar de forma ética, personalizada e funcional na vida das crianças com quem trabalhamos.
Porque comunicar é muito mais do que falar. É ser visto. É ser entendido. É pertencer.
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