Desfralde de Crianças com Autismo: Estratégias baseadas na ABA
- Cátia Soares
- 3 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de nov. de 2024

O desfralde de crianças com autismo é um processo que exige paciência, planeamento e, sobretudo, uma abordagem personalizada. Antes de iniciar este caminho, é importante considerar vários fatores, como a prontidão da criança, as suas capacidades de comunicação, a sensibilidade sensorial e a possível presença de outras condições que possam interferir no processo, como problemas gastrointestinais. A individualidade de cada criança é o ponto-chave: o que funciona para uma pode não ser eficaz para outra. Respeitar o ritmo e as necessidades de cada criança é essencial para tornar esta transição o mais tranquila e bem-sucedida possível.
Para apoiar este processo, muitas famílias e profissionais recorrem à Análise do Comportamento Aplicada (ABA). A ABA é uma abordagem baseada em evidências que ensina habilidades específicas de forma estruturada e com reforço positivo. Abaixo seguem algumas estratégias da ABA que podem ajudar no desfralde de crianças com autismo.
1. Avaliação da Prontidão para o Desfralde
Antes de iniciar o desfralde, é importante verificar se a criança demonstra sinais de prontidão, como períodos mais longos com a fralda seca, desconforto com a fralda suja ou a capacidade de comunicar, de forma verbal ou não-verbal, a necessidade de ir à casa de banho. Estes sinais indicam que a criança pode estar preparada, mas é essencial ajustar o planeamento de acordo com as suas necessidades.
No entanto, algumas crianças com autismo podem não exibir esses sinais de prontidão de forma clara ou demorar mais a manifestá-los. Quando isso ocorre, a idade pode ser usada como critério para iniciar o desfralde. Profissionais de ABA recomendam que, na ausência de sinais, o processo comece numa idade em que, em média, a maioria das crianças já consegue aprender a controlar o uso da casa de banho — geralmente entre os 3 e os 5 anos. Esta decisão deve ser ponderada com o apoio de especialistas e ajustada à realidade de cada criança. Mesmo sem os sinais típicos, o processo pode avançar com paciência e com estratégias personalizadas para o ritmo de cada um.
2. Criação de uma Rotina Estruturada
Para muitas crianças com autismo, a previsibilidade e a rotina são fundamentais. Estabelecer um cronograma regular para idas à casa de banho ajuda a reduzir a ansiedade e a tornar o processo mais claro para a criança. O ideal é definir horários específicos durante o dia, como depois das refeições ou antes de dormir, e manter uma rotina consistente. A ABA utiliza essa estrutura para reforçar a associação entre o momento certo e o comportamento desejado, ajudando a criança a integrar esse hábito de forma mais natural.
3. Uso de Reforços Positivos
O reforço positivo é uma das ferramentas mais eficazes da ABA para o ensino de novas habilidades. Sempre que a criança usa a casa de banho com sucesso, oferecer um reforço positivo pode ajudar a consolidar esse comportamento. Este reforço pode ser um elogio, um autocolante ou uma pequena recompensa que tenha significado para ela. Esta técnica aumenta a probabilidade de que o comportamento se repita, tornando o processo mais motivador. Escolher reforços realmente significativos para a criança é fundamental, ajustando-os conforme ela avança no processo.
4. Trabalho com Sistemas de Comunicação Alternativa
Para crianças com dificuldades de comunicação verbal, pode ser útil utilizar sistemas de comunicação alternativa, como cartões visuais ou dispositivos de comunicação. Na ABA, estes sistemas são usados para ajudar a criança a comunicar a sua necessidade de ir à casa de banho. Por exemplo, a criança pode aprender a apontar para um cartão com o símbolo da casa de banho sempre que precisar. Esta técnica promove a independência e reduz a frustração associada à dificuldade de comunicação, permitindo que a criança sinalize a sua necessidade de forma clara e acessível.
5. Desensibilização para a Casa de Banho
Algumas crianças com autismo apresentam sensibilidades sensoriais que tornam o ambiente da casa de banho desconfortável ou até assustador. Sons como o do autoclismo, o toque do assento ou até cheiros fortes podem ser fontes de desconforto. A técnica de desensibilização gradual, uma prática comum na ABA, ajuda a criança a familiarizar-se com este ambiente. Pode incluir passos como expor gradualmente a criança ao ambiente da casa de banho e recompensar pequenos avanços, como sentar-se na sanita, sem pressão para utilizar o espaço de imediato. Este método reduz o desconforto e ajuda a criança a sentir-se mais à vontade.
6. Monitorização e Ajuste Contínuo
Durante o processo de desfralde, é essencial acompanhar constantemente o progresso da criança, identificando sucessos e dificuldades. A ABA sugere a manutenção de registos detalhados para monitorizar avanços e ajustar as estratégias conforme necessário. Além disso, celebrar pequenas conquistas é fundamental para manter a motivação da criança. Caso ocorram regressões, é importante reavaliar as estratégias sem gerar pressão adicional, garantindo que a criança se sinta apoiada e segura.
Conclusão
O desfralde em crianças com autismo pode apresentar desafios, mas com as estratégias adequadas, torna-se um processo realizável e menos stressante. As ferramentas da ABA oferecem uma abordagem estruturada e eficaz, com base no reforço positivo e no respeito pelo ritmo individual de cada criança. Ao recordar que cada criança terá o seu próprio percurso, pais e profissionais podem ajudá-las a alcançar este marco de forma positiva e recompensadora.
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